sábado, 20 de dezembro de 2008

BELMIRO DE ALMEIDA

Belmiro Barbosa de Almeida Júnior
Serra/MG, Brasil, 22/05/1858

Paris, França, 12/06/1935
Pintor, desenhista, caricaturista, mosaicista, restaurador e escultor.
Assinava BEL, ROMIBEL (caricaturas) e BELMIRO (óleos e desenhos).



Nota Biográfica

Começa seus estudos artísticos em 1869, com apenas 19 anos, ao estudar no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, de onde sai em 1874 para ingressar na Academia Imperial de Belas-Artes, onde estuda com mestres do porte de Agostinho José da Mota, Zeferino da Costa, Francisco de Souza Lobo e José Maria de Medeiros, formando-se em 1877.
Aluno distintíssimo, revela-se desenhista de primeira ordem e fino colorista. No conturbado ambiente que se forma na Academia Imperial de Belas-Artes entre acadêmicos e modernistas, Belmiro forma neste último grupo, rebelando-se contra o defasado sistema de ensino vigente. Entre os dissidentes, estão: Eliseu Visconti, Rafael Frederico, Décio Villares, Fiúza Guimarães e outros. A partir desse mesmo ano, a Comédia Popular publica sua primeira caricatura, assinada Bel.
Ao longo de toda a sua vida, colaboraria como caricaturista nos periódicos cariocas O Mercúrio, O Binóculo, O Malho, Fon-Fon, Cigarra, Comédia Popular, A Bruxa, Almanaque da Noite, Gazeta de Notícias, D.Quixote; chegaria mesmo a colaborar com brilho no Assiette au Beurre, de Paris. Na caricatura, Belmiro manifesta interesse por temas sociais, representa os contratempos do cotidiano, no trabalho e no lazer, em charges cáusticas. Além de desenhista, seria editor das revistas e Fon-Fon, Diabo a Quatro, Rataplan e João Minhoca. Em 1878 freqüenta as aulas de Henrique Bernardelli e Rodolfo Amoedo, entre outros, no Ateliê Livre/RJ, instalado num barracão que ficava no Largo de São Francisco/RJ, onde se praticava um ensino alternativo ao da Academia Imperial. Nesse mesmo ano, assinaria suas caricaturas como Bromeli e Romibel. A atividade prolífica de Belmiro na imprensa, entretanto, sacrifica sua produção de pintor. Em 1879, é contratado para ser professor de desenho no Liceu de Artes e Ofícios/RJ, cargo que exerceria até 1882. Em 1883, é nomeado conservador da Pinacoteca da Academia Imperial de Belas-Artes (ancestral do Museu Nacional de Belas-Artes), passando a cuidar de manter e restaurar o acervo daquela instituição. Em 1884 conquista a Medalha de Ouro de Segunda Classe no Salão Nacional de Belas-Artes, credenciando-se para concorrer ao Prêmio Viagem ao Exterior.
Faz primeira viagem a Paris em 1884, por sua própria conta. Na França, Édouard Manet (1832-1883) e Edgar Degas (1834-1917) na pintura, e Gustave Flaubert (1821-1880) e Émile Zola (1840-1902) na literatura, revolucionam o cenário artístico. No lugar certo e na hora certa, Belmiro vivencia um dos grandes momentos culturais da história. A viagem é curta, dura apenas um ano, mas Jules Lefèfre, seu mestre francês, exerce grande influência em seu estilo, o que se pode atestar no corpo de adolescentes pintados por Belmiro: “têm a mesma linearidade e sensualidade do autor de La Verité”, ensina José Roberto Teixeira Leite. Retorna ao Rio de Janeiro em 1885 e funda seu próprio jornal, o Rataplan, em 1886. Nesta época, próxima á proclamação da República, só se aceitava a pintura que contivesse fortes laços conservadores sustentados por velhos mestres da Academia brasileira. É quando surge uma geração rebelde, disposta a quebrar velhos conceitos e abrir caminhos mais animadores para a arte nacional. E nela, embalado, Belmiro pinta e expõe Arrufos em 1887 na Casa de Wilde/RJ e na Academia Imperial de Belas-Artes, uma de suas obras mais conhecidas, que se destaca pela rigorosa fatura e pelo tom de leve ironia com o qual a cena é retratada.
É uma cena doméstica da vida burguesa, tema originalíssimo para a época, sendo considerada por Gonzaga Duque, em seu livro Arte Brasileira, como a mais importante produzida no Rio de Janeiro até então – o crítico, aliás, serviu de modelo para a figura masculina da composição. Em retribuição à graça, Gonzaga Duque retrataria Belmiro no personagem “Agrário”, que povoaria o romance Mocidade Morta, lançado em 1899. Em 1887, ao avaliar Arrufos, Gonzaga Duque, que conhecia Belmiro desde moço, traça um ótimo perfil de sua personalidade: “É um mineiro que possui a verve, a sagacidade de um parisiense bulevardeiro. Na rua, de pé sobre a soleira de uma porta, no Café Inglês ou na Casa de Havanesa, o seu tipo pequeno, forte e buliçoso, destaca-se da multidão. Quando solteiro, foi um boêmio desregrado, um perfeito tipo à Murger. Entre camaradas, na Rua do Ouvidor, com o narizinho arrebitado e atrevido farejando pacatos burgueses para lhes agarrar o ridículo, tinha na cabeça um cento de assuntos para pintar em casa e um cento de quadros para concluir.
A sua predileta musa era a que inspirou e imortalizou Daumier e Gavani, e, a bem da verdade, deve-se dizer que, depois de Burgomainerio e Bordalo Pinheiro, ninguém tem feito no Brasil, melhores caricaturas. Só depois de casado e depois de viajado, depois de ter visto de perto quanto trabalho e quanta dedicação são precisos para o artista conquistar um nome foi que ele abandonou a boemia, de uma vez para sempre. A única coisa que ele jamais abandonará é a toilette. O vestuário é para Belmiro de Almeida o que foi para Honoré de Balzac e para Alfonse Karr, o que é para Daudet e para Carolus-Duran, o que é para Leon Bonnat e Rochegrosse; uma feição artística, um sintoma de bom gosto e de asseio, ou, como lhe chama o mestre, Sr. Ramalho Ortigão, a expressão gráfica, pessoal de uma filosofia”. Em 1888, concorre ao Prêmio Viagem ao Exterior, mas quem vence é Oscar Pereira da Silva. Por julgar o resultado injusto, Rodolpho Bernardelli e Rodolfo Amoedo interferem no assunto abrindo subscrição pública para subvencionar uma viagem ao exterior a Belmiro, jovem no qual os mestres acreditam ter uma decidida vocação.
Parte no mesmo ano para Paris, onde estuda pintura com o conceituado Jules Joseph Lefebvre (1836-1912), mestre de um academismo eclético bem aceito por mecenas conservadores, e com Benjamim Constant et Pelez, aproximando-se das vertentes pós-impressionistas. A partir desta primeira viagem, o artista alternará sua carreira entre Rio de Janeiro e Paris, “aqui cavaqueando sempre, trabalhando às vezes, e obtendo encomendas; lá produzindo obras mais sérias, aprimorando a técnica, aguçando o espírito”, como diz Celso Kelly. Retorna em 1889 e em 1890, estuda no Ateliê Livre/RJ, que funciona num barracão instalado no Largo de São Francisco/RJ, nos moldes da Academie Julien, de Paris; era um ensinamento alternativo, contrapondo-se ao rigor acadêmico da “recém antiga” Academia Imperial.
Aqui e nesse mesmo ano, Belmiro apresenta sua primeira individual. Em 1891, pinta Apoteose ao 15 de Novembro, por encomenda da Intendência Municipal/RJ, “deixando perceber não ser a pintura histórica o seu gênero de predileção”, como observa José Roberto Teixeira Leite em seu Dicionário Crítico. Na segunda viagem à Europa, Belmiro inicialmente decide ir para Roma, onde, em 1892, produz as primeiras pinturas pontilhistas, entre elas Efeitos de Sol, desse mesmo ano, que traz a evocação de um mundo camponês, com uma paisagem estruturada em manchas de cor que se destaca pelo caráter inovador, se comparado com a pintura que então se praticava no Brasil. Entretanto, está firmemente decidido a fixar-se em Paris e para lá segue. Estuda na École National Superieur des Beaux-Arts, onde conhece Georges Seurat (1859-1891), e na Académie Julien. O Impressionismo está em decadência e já despontam pós-impressionistas de peso, como Gauguin, van Gogh e Cézanne. Concorre nos salões da moda e apresenta individuais. Distanciado da modorra conservadora tupiniquim, Belmiro desprende-se das amarras acadêmicas de Lefèbvre e revela tendência ao Realismo, embora também flerte com o Pontilhismo e o Impressionismo. Será um dos mais singulares desses jovens revolucionários, por sua disposição em enfrentar e contestar velhas fórmulas – tarefa talvez até facilitada por sua carreira de caricaturista. Em seus temas, dá ênfase para tipos e cenas de gênero, uma inovação para a época. Como pessoa Belmiro é brincalhão. Não dispensa uma existência bem humorada e dispersa suas energias em uma vida boêmia que lhe toma tempo e atenção. Rebelde e persistente, forma uma personalidade pela qual todos têm enorme admiração, o que lhe traz muitos problemas.
Chega mesmo a ser até ferino com seus adversários e acaba por superar problemas causados pelos conservadores de plantão, que não admitiam a “audácia” de novas expressões. A ausência de respaldo para as novas tendências da arte, entretanto, leva-o a não abandonar definitivamente os trabalhos mais conservadores, capazes de garantir-lhe a sobrevivência. Em 1893, é nomeado professor interino de Desenho na Escola Nacional de Belas-Artes, em substituição a Pedro Weingärtner. Nesse mesmo ano, pinta A Tagarela, uma personagem popular, no qual destaca-se o domínio no uso da linha, que estrutura a composição, e o cuidadoso trabalho com a cor. Em 1894 é suspenso de lecionar na Escola por desacato ao diretor Rodolfo Amoedo, o que culminaria com seu pedido de demissão em 1896.
Apesar de sua inclinação modernista quanto a temas, pinta duas composições clássicas: em 1899, executa Os Descobridores, na qual fixa o drama dos degredados deixados por Cabral no Brasil - dois pobres homens, exaustos, ao pé de uma árvore desfolhada. A paisagem é totalmente árida e desolada, transmitindo a sensação de abandono, reforçada pelo tratamento cromático, uma luminosidade que se espalha uniformemente pela superfície. Belmiro recusa-se a dar monumentalidade à obra, mas lhe confere uma concepção e um tratamento plástico muito originais; Assinatura do Tratado de Versalhes pelos plenipotenciários brasileiros Pandiá Calógeras, Rodrigo Otávio e Raul Fernandes; e uma de tema religioso, Flagelação de Cristo, que está na Ordem Terceira de São Francisco da Penitência/RJ. Também executa, por encomenda do governo francês, uma composição inspirada na revolução de 1789, na qual, para fazer graça, retrata, entre os revolucionários que integram a composição, alguns amigos que estavam de passagem por Paris, como o poeta José Albano, o caricaturista Luiz Peixoto e o dublê de pintor e diplomata Navarro da Costa. Em 1900, pinta Retrato de Abigail Seabra, na técnica pontilhista e em 1901 funda e edita o jornal João Minhoca. Por volta de 1905, pinta o célebre Dame à la Rose, que hoje está no Museu Nacional de Belas-Artes, uma jóia composta no mais puro estilo fin-de-siécle, muito distante dos retratos acadêmicos da época.
Quirino Campofiorito, na sua História da Pintura Brasileira no Século XIX, registra uma interessante passagem sobre a famosa tela: dizem que o bem humorado pintor Hélios Seelinger, caminhando em Paris, cruzou com a graciosa figura que servira de modelo a Belmiro: ela estava tão gorda, mas tão gorda, que doravante só poderia posar para um Dame au chou-fleur. Em 1906, executa painéis para o edifício da Caixa de Amortização/RJ, expõe Dame à la Rose no Salão Nacional de Belas-Artes/RJ e Amuada no Rio e teria um Nu recusado no Salon de Paris, sob alegação de imoral. Em 1909 executa a tela Bárbara Heliodora para o Salão Nobre do Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Na escultura – atividade à qual pouco se dedica e que não tem grande importância em sua obra – cria em 1911 uma réplica livre da escultura-fonte Maneken-Piss [um menino nu, urinando ininterruptamente, famoso original de 1619 instalado numa esquina de Bruxelas], fundida em bronze e que ficou conhecida no Rio de Janeiro como Manequinho. Por muitos anos esta bem humorada peça encantou o povo do Rio de Janeiro: esteve instalada na Cinelândia, depois foi transferida para o Largo do Mourisco, onde o clube de futebol Botafogo a adotou como mascote do time, até que foi roubada no final da década dos 1980 [foi refeita algum tempo depois] – toda segunda-feira o menino aparecia vestido com a camisa do time de futebol carioca vencedor do fim de semana. De temperamento rebelde e irreverente, Belmiro de Almeida é visto como um inovador por muitos historiadores da arte, um artista que escapa aos rígidos padrões estéticos acadêmicos que norteavam a pintura do final do século passado. Suas constantes idas a Paris têm como resultado uma rica e inovadora bagagem artística. Em certa medida, Belmiro de Almeida faz com que a pintura brasileira adentre o século XX.
A partir de 1913 e 1914, passa a integrar o júri de seleção e premiação das Exposições Gerais de Belas-Artes/RJ. Em 1915, é presidente da Comissão Diretora da XXII Exposição Geral de Belas-Artes/RJ e, entre 1915 e 1925, é membro do Conselho Superior de Belas-Artes. Em 1916, depois que Rodolfo Amoedo deixa a diretoria da Escola, Belmiro assume por contrato a cátedra de Desenho de Modelo Vivo da Escola Nacional de Belas-Artes. Participa do concurso oficial para provimento dessa cátedra, mas perde para Fiúza Guimarães e abandona o ministério definitivamente – embora fosse um rendimento certo e desejável na época, nunca teve maior inclinação para professor. Nesse mesmo ano cria no Rio de Janeiro, com J. Carlos, Kalixto Cordeiro e Raul Pederneiras, o Salão dos Humoristas, que faz sua primeira exposição no Liceu de Artes e Ofícios/RJ, no qual estréia Di Cavalcanti, com apenas 19 anos de idade. Encerrada a I Guerra Mundial, vai fixar-se definitivamente em Paris, onde permaneceria pelo resto de seus dias, com fugazes estadas no Brasil. Em 1919, pinta Dampierre na técnica pontilhista com pinceladas curtas valorizando os tons, mas obedecendo à orientação dos planos. Flerta com o Futurismo quando já veterano, em 1921, como se vê em sua tela Mulher em Círculos. Em 1923, torna-se membro da Societé des Artistes Français e ainda aparece no catálogo da Pinacoteca Nacional de Belas-Artes.
Em 1925 cria o projeto para o túmulo do presidente Afonso Pena no Cemitério São João Batista/RJ, para o qual executa sua segunda escultura: Figura de Mulher. Em 1930, em um de seus momentos no Brasil, funda, com outros participantes, o Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro, do qual foi seu primeiro presidente. Afasta-se do cargo logo depois, em vista de seu retorno à Europa que não mais deixaria até sua morte, em 1935. Belmiro sempre se preocupou com seu futuro, razão pela qual delegara ao seu amigo Antônio Ribeiro Seabra, dublê de atento negociante e mecenas, a administração de suas economias, levando-o a prosperar. Ao morrer, deixa para a Escola Nacional de Belas-Artes parte de seus bens, com instruções para que sejam destinados ao amparo de alunos sem recursos. Espírito aberto, como se deve ser em arte, Belmiro sempre vivenciou novas técnicas, a elas acrescentando sua interpretação pessoal e sua maestria na fatura. Incursiona pelo Barroco, associado ao Neoclássico e ao Romantismo, no óleo A má notícia, de 1897; pelo Academismo, nos primeiros tempos; pelo Impressionismo; pelo Pós-Impressionismo, quando estuda pintura com Jules Lefèbvre e com Benjamim Constant et Pelez em Paris; pelo Pontilhismo, absorvido na convivência com Seurat – suas primeiras obras pontilhistas são pintadas em Roma, em 1892; pela Art Nouveau; e pelo Realismo burguês, praticado na França depois do advento do Realismo Social, quando os artistas fixam cenas do cotidiano da classe média, como no caso de Arrufos, de Belmiro, e no de O Descanso do Modelo, de Almeida Júnior. Vários críticos, entre eles Paulo Herkenhoff, defendem que a Arte Moderna começou no Brasil bem antes de 1922, com Belmiro de Almeida, Eliseu Visconti e Timótheo da Costa. Belmiro de Almeida está entre os artistas brasileiros mais importantes do início do século XX.

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Aldir Mendes


Aldir Mendes de Sousa
São Paulo/SP, Brasil, 17/05/1941
São Paulo/SP, Brasil, 12/02/2007
Pintor, desenhista, gravador, escultor, objetista e cineasta.
Assinava ALDIR.

Nota Biográfica

Na primeira metade dos anos 1960, estuda Pintura e Desenho Artístico com Nair Mendes e estréia em 1962 no I Salão do Trabalho na Galeria das Folhas em São Paulo/SP. Forma-se Médico em 1964 pela Escola Paulista de Medicina em São Paulo e especializa-se em Cirurgia Plástica no Hospital das Clinicas em 1967. Autodidata em artes, desenvolve trabalhos nas áreas de pintura, desenho, gravura, escultura e cinema. Inicialmente, demonstra que “a radiologia abre novas possibilidades para a Arte, permitindo combinar a imagem externa com a estrutura interior”. A partir de 1969 elege o cafeeiro como símbolo da natureza e o representa como uma figura circular de contornos sinuosos. Do cafeeiro surge o cafezal, formado pela disposição regular do arbusto em fileiras. A seriação da figura leva-o à perspectiva e suas sínteses formais, à geometrização. Nos anos 1970 desenvolve extensa obra, com referência ao campo e à cidade, culminando em 1979 com uma exposição baseada na arquitetura, quando explora o formato retangular das janelas.
Em 1980, desenvolve uma série de pinturas abstratas geométricas a partir da figura do retângulo. Em 1982, comemora 20 anos de pintura apresentando individual no Museu de Arte Brasileira em São Paulo/SP, ocasião em que é lançado o livro Aldir, Geometria da Cor, uma síntese da sua pintura abstrata dos anos 1980 e da paisagem rural. Na época, seu tema é Cidade x Campo, apresentando formas despojadas, ainda sob os efeitos dos trabalhos abstratos. Em 1985, apresenta Geometria, uma síntese da pintura abstrata de 1980 e da paisagem rural. Utiliza, a partir de então, o retângulo em perspectiva obliqua como símbolo e elimina a linha do horizonte de suas paisagens. Propõe a horizontalização da pintura em 1987 e possibilita ao observador uma visão em cima das obras. Sobre a sintetização da paisagem, explica: “As paisagens que eu invento talvez não existam, mas são mais verdadeiras do que a própria realidade”. Em 1998, produz uma série de pinturas denominadas Arco-Íris com cores claras e aéreas, e re-introduz a linha do horizonte no conjunto das paisagens rurais. Em 1999, apresenta a série Quartetos. Desde que decidiu trilhar o caminho das artes plásticas, Aldir sempre pesquisou as mais diversas áreas possíveis, em busca de acrescentar algo mais ao seu universo imaginário. “Estudei a estruturação de formas no concreto armado, criando verdadeiras paisagens coloridas para pisos e paredes, numa técnica inovadora”, conta o artista.
De fato, Aldir faz grandes murais nos quais utiliza pigmentos com alto poder de coloração em base de concreto e, com esse tipo de material, transpõe suas pinturas horizontalmente. É a maneira que o artista encontra para retirar a paisagem da parede, trocando a tela pelo cimento, inventando pisos cromáticos e poéticos. A técnica utilizada para essas obras é simples para quem domina o assunto: trata-se de aplicar cor ao concreto e, através dessa massa diferenciada, criar espaços geometrizados. O cinza frio e neutro é substituído por intenso jogo de cores e formas. “Eu não queria ficar mais só em telas e acabei levando meu trabalho para o chão. É uma experiência fantástica porque se você olhar bem do alto, poderá imaginar que está sobrevoando a paisagem”, define o artista. Sobre sua exposição Pinturas para Pisar em 2001 na Pinacoteca do Estado de São Paulo, esclarece: “Ao observar dois quadros que ficaram ocasionalmente lado a lado no chão do ateliê, percebi que o desenho de um deles se ligava ao outro. Passei, então, a colocar vários quadros enfileirados e novos jogos ópticos imprevisíveis foram surgindo. Depois de pesquisar a melhor maneira para agrupar os conjuntos de pinturas, concluí que a formação mais adequada era a de quadros que, colocados em convergência de seus pontos de fuga, criavam novos centros ópticos e novas trajetórias cromáticas.
Planejando os quartetos, consegui resultados inesperados. Fiquei surpreso com o conjunto porque pictoricamente era mais criativo que seus componentes, comprovando a teoria da gestalt, de que o todo é mais do que a soma das partes. A trajetória da primeira cor cria o desenho, as cores complementares são aplicadas a seguir, tendo como objetivo a criação de contrastes cromáticos. O propósito é seguir o que Goethe pregou: ‘Não existe na natureza nenhum fenômeno que englobe a totalidade cromática; portanto, a mais bela harmonia é o diagrama cromático produzido pelo homem’. É lógico que a idéia de se colocar muitas cores na pintura é uma pretensão ousada, mas esta é a proposta da minha pesquisa”. Posteriormente, desenvolve quatro pinturas em peça única, trabalhando em fibra de madeira. Depois de seca, a obra é revestida com plástico transparente, permitindo que o público ande descalço sobre ela, sentindo o trabalho com os pés. Com o desenvolvimento do projeto Pinturas para Pisar, ocorre a idéia de criar um balé performático inspirado no tema. As imagens das paisagens aéreas são projetadas no corpo, em objetos e em tecidos brancos apresentados e sustentados por bailarinas que dançam ao som de poemas concretistas declamados e musicados. Assim, surge uma nova forma escultórica, com a integração da dança, música, poesia escultura e pintura, servindo esta última como base e motivação inspiradora da performance.
A “pintura para pisar” possibilita ao público ter novas experiências sensoriais, mas jamais substituirá a “pintura para ver”, que também será mostrada em composições de oito quadros montados na posição vertical. Na manhã de 12 de fevereiro de 2006, após 15 meses de luta contra a leucemia, o artista vem a falecer precocemente, aos 65 anos de idade, no Hospital Oswaldo Cruz em São Paulo/SP.

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